O PIOR ENSINO MÉDIO DO MUNDO?
Artigo
de Cláudio de Moura Castro na Veja ,em 6 de maio de 2015
Do ponto de vista de suas regras e formato legal, não consegui encontrar um só
pais com ensino médio pior que o nosso.
O modelo
brasileiro gera péssimos números. Enquanto o Chile universaliza esse nível, no
Brasil, menos da metade da coorte consegue completá-lo. Dos que iniciam o
curso, só 40% o terminam. Para culminar, em vez de caminhar para a
universalização, nosso médio encolhe! Vejamos por quê.
1 – O mais
odioso equívoco é impor o mesmo currículo a todos. Os futuros Machados de Assis
têm a mesma carga de matemática oferecida aos que serão engenheiros da Embraer.
E esses últimos, para entrar em uma boa faculdade, precisam brilhar em
literatura. Nenhum país do mundo civilizado deixa de reconhecer as diferenças
individuais e oferecer cursos, currículos e escolhas de acordo com as
preferências e talentos de cada um.
2 – O excesso
de disciplinas é assustador. São catorze as obrigatórias. Na prática, os alunos
podem ser obrigados a cursar dez, simultaneamente.
3 –
Transbordam os conteúdos das ementas, desde o início da escolarização. Com
razão, os alunos reclamam da chatice crônica e da falta de proximidade entre o
que é ensinado e o universo deles. No Brasil, rabeira no Pisa, no 4° ano
primário os alunos aprendem 27 tópicos de matemática. Em Singapura, no
topo do Pisa, são quatro! O aluno brasileiro ouviu falar de tudo mas não
aprendeu nada. Aprender de verdade requer empapar-se do assunto, mergulhar
fundo, praticar. Impossível, com tanta matéria para percorrer. Não há tempo
para aplicar o ensinado. Sugiro ao leitor dar uma olhada em um livro de
biologia, para convencer-se do exagero. E, como pontifica David Perkins (de
Harvard), só aprendemos quando aplicamos o conhecimento em situações concretas.
4 – Nas
disciplinas mais críticas, há uma grande escassez de professores bem formados.
De fato, as fragilidades e os equívocos das faculdades de educação estão entre
os grandes culpados pelo desastre. Apesar disso, engenheiros, advogados e
farmacêuticos não podem ensinar matemática, física ou química, embora conheçam
mais do assunto e tenham melhor desempenho em sala de aula do que grande número
de professores com carteirinha. Disso sabem os cursinhos, livres para contratar
e pagar regiamente a quem quiserem.
5 – O tempo
efetivamente usado para ensinar e aprender já começa estreito — por lei — e é
ainda mais espremido pelas perdas de tempo nos horários de aula. Segundo as
pesquisas, é razoável supor que só a metade do tempo é usada para aprender. O
resto se perde. E, como sabemos, quanto menos se estuda, menos se aprende.
6 – Prevalece
a indisciplina sistêmica. Uma pesquisa do Positivo perguntou aos alunos o que
mais atrapalhava o seu aprendizado. A resposta unânime foi: a bagunça dos
colegas. Mas confundimos autoridade com autoritarismo, e os professores se
sentem desamparados para impor a disciplina careta que existe em toda escola
bem-sucedida.
7 – Da forma
como é usado pelas universidades públicas, o Enem virou uma camisa de força. Ao
imparem notas únicas de entrada, elas impedem a diversificação do ensino médio.
Isso tudo sem falar das deficiências das séries anteriores, cujos últimos anos
compartilham os mesmos problemas do médio. Ou seja, agravando o quadro, os
alunos chegam despreparados.
Com isso tudo
concordam pesquisadores e até ministros. O problema é que a engenharia da
mudança está enredada. O Conselho Nacional de Educação nada faz. O Congresso só
faz votar novas disciplinas, para agradar a seus grupelhos de eleitores (mais
uma dúzia de novas disciplinas foi proposta). Os ministros e os secretários de
Educação estão de mãos atadas pelos lobbies e pela inércia. Mas, como
demonstram alguns estados, há mais flexibilidade na lei do que parece. Ou seja,
falta ousadia.
Quando foi
aprovada a LDB, um marco legal iluminado e flexível, previ que, em pouco tempo,
a sua regulamentação destruiria o espírito da lei. De fato, logo adquiriu um
rigor cadavérico. Quase nada sobrou de sua versatilidade inicial. A maior
vítima dessa desfiguração é o ensino médio. A ação de forças descoordenadas
criou um monstro, e não sabemos como descriá-lo.
Artigo sensacional!
ResponderExcluirO sistema educacional brasileiro atual não permite ao aluno aprender de fato. Em alguns casos, que são raros, os alunos até entendem os conteúdos mas não aprendem. O sistema educacional é como uma autoescola: prepara o aluno para ser aprovado no exame e receber a CNH mas o aluno não aprende a dirigir porque não é ensinado.