A PROFISSIONALIZAÇÃO DA GESTÃO ADMINISTRATIVA NOS ESTABELECIMENTOS DE ENSINO

Mário Capp

Na última década temos assistido a entrada de grandes redes de ensino adquirindo escolas e consolidando o mercado no Ensino Superior. Na Educação Básica essa tendência também é observada de forma acentuada nos Sistemas de Ensino e em menor escala, mas em crescimento, na aquisição de escolas, que são incorporadas a grupos educacionais maiores, atraídos pelo aumento da participação no PIB do setor educacional. O mercado brasileiro de educação, no que tange ao Ensino Básico, tem características próprias. A maioria das escolas foi fundada na década de 70, em virtude da necessidade das classes média e alta de terem um ensino de qualidade, associado evidentemente a outros aspectos conjunturais do país.
Dessa forma muitas escolas surgiram e prosperaram, tornaram-se instituições de porte médio. Se analisarmos a fundo o processo de concepção dessas, veremos que a quase totalidade foi fundada por grupos de educadores, em sociedade, ou por educadores individuais. Muitas delas permanecem até hoje com essa estrutura ou converteram-se em empresas familiares.
Na década de 90 o país se abriu, ainda que de maneira tresloucada, para o mundo globalizado. Sem reserva de mercado e outras benesses, muitas empresas que não se mobilizaram em termos de profissionalização, simplesmente faliram. Anos após, a redução da inflação fez com que várias empresas deixassem de ter lucro, pois seu lucro era não operacional, e sim financeiro,  advindo principalmente da chamada ciranda financeira. Ou seja, as empresas em geral, no Brasil, passaram por um período extremamente difícil em que tiveram que se adaptar para não fechar as portas. E essa mudança foi principalmente de gestão, de aplicação de conhecimento administrativo, financeiro, tecnológico, de marketing, entre outros. Foi uma fase rica em mudanças, apesar de trágica: quem não se adaptou às novas exigências, simplesmente encerrou as atividades, ou foi incorporado por grupos econômicos melhor estruturados.
Por outro lado, a escola brasileira, enquanto empresa, mudou muito pouco, pois essas mudanças não a afetaram em um primeiro momento. Porém, pagam um preço alto por isso. Muitas escolas, principalmente de médio porte, ainda são empresas familiares ou sociedades de educadores, como quando foram fundadas, e com o mesmo funcionamento. Temos a figura de um Diretor, que normalmente é o sócio ou alguém da família, com características de centralização excessiva, sobrecarregado, voltado essencialmente para o lado pedagógico. Nesta situação é comum que ele atenda desde assuntos financeiros, de inadimplência até a autorização para o compra de um DVD ou a contratação de um auxiliar. Neste contexto, o lado administrativo/estratégico da empresa fica em segundo plano. Mesmo as escolas que têm um setor administrativo/financeiro, muitas vezes não o possuem de forma estruturada. Tudo isso tem suas consequências. Analisemos as questões abaixo:

·         Quantas escolas sabem realmente quem é sua clientela?Quais suas necessidades e preferências?Qual seu padrão econômico e cultural? Entre muitos outros indicadores;

·         Sob que aspectos os clientes estão satisfeitos ou insatisfeitos?

·         Como é a  concorrência? E, o que fazer para captar mais alunos?

·         Como diminuir as  despesas e otimizar os recursos?

·          Existe um setor de compras profissionalizado?Estudos mostram os procedimentos de compras podem gerar uma economia média de 30% na aquisição de produtos e serviços.

·         Como diminuir a inadimplência?Como negociar com os devedores?

·         Como é fixado o reajuste da mensalidade?Existe uma planilha efetiva de custos por aluno?

·         Quantas vezes foram propiciados treinamentos para os colaboradores, especialmente os que trabalham com o público?

·         Quantas escolas sabem o que é e conseguem fazer um planejamento estratégico efetivo?

São exemplos de questões cruciais e para as quais, infelizmente, a maioria das escolas não tem respostas, pois opera sem informações básicas, o que tem efeitos devastadores sobre controle financeiro, inadimplência(existem as que operam com níveis acima de 20%); captação e retenção de alunos, satisfação das famílias,etc.
Isto sem falar em outros aspectos, como por exemplo: plano de cargos e salários, manual de procedimentos, orçamento (previsto x realizado), investimentos, campanha de matrículas, marketing, análise institucional e outras ferramentas para propiciar um planejamento estratégico com efetividade. Pesquisas demonstram que são pouquíssimas escolas tem essa visão hoje.
Diante desse quadro, é natural que se inicie um processo de incorporação, por grupos educacionais, que na realidade são um ramo de negócios de grupos econômicos maiores, melhor estruturados e que pensam a educação também como negócio. Esse processo é natural e irreversível, dado que as escolas brasileiras , evidentemente com raras exceções, não conseguiram se estabelecer, em virtude dos aspectos já considerados, como grandes empresas.
E qual a consequência disso? Ou as escolas se diferenciam, a ponto de estabelecerem nichos de mercado, com uma concepção educacional diferenciada, capazes de atrair uma clientela afinada com esses princípios, ou, se assumirem o lugar comum, simplesmente serão incorporadas por grandes grupos. Evidentemente devem melhorar muito em relação à profissionalização de sua estrutura. Cito sempre o exemplo, do qual os educadores não gostam muito, de um grande supermercado que se instala em uma cidade com vários armazéns e pequenas vendas, daquelas onde se tem a famosa caderneta para pagamento ao final do mês, onde se compra fiado para se pagar na semana seguinte, entre outros procedimentos, e onde não existia nenhum supermercado anteriormente. Se cada um deles não estabelecer um diferencial, para assumir um determinado nicho, invariavelmente irá encerrar as atividades em um curto prazo. Não existe possibilidade de concorrência entre as empresas, tal a desproporção de forças.

É esse novo cenário desafiador que se desenha para as escolas brasileiras:ou existe a mudança ou existe a incorporação ou o fechamento.

Comentários

  1. Concordo, pois na maioria dos casos as IEs sequer possuem sistemas integrados de gerenciamento, com bancos de dados confiáveis, e poucos profissionais analisam os relatórios extraídos.
    Sendo que ainda nos dias de hoje, muitas atuam num sistema paternalista, inclusive na contratação dos docentes e funcionários. administrativos.

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